Investimentos do Governo de Minas em pesquisas para mineração responsável do lítio crescem 14 vezes em três anos
Só em 2023, Estado destinou, via Fapemig, mais de R$ 6,6 milhões para estudos relacionados à extração do mineral
Publicado: 08/07/2024 10:50 | Atualizado: 08/07/2024 11:00
 Foto: Gracielle Maciel Foto: Gracielle Maciel

Mineral estratégico na política mineira, e global, para uma transição energética sustentável e alinhada com o meio ambiente, o lítio vem se tornando um grande aliado do Estado também na condução de uma mineração do futuro.  

Com o objetivo de promover a atividade de forma responsável e em prol do desenvolvimento socioeconômico da população, o Governo de Minas tem ampliado os investimentos em pesquisas relacionadas à extração do lítio, e o resultado disso é que, nos últimos três anos, os aportes com esta finalidade cresceram 14 vezes.   

Só em 2023, mais de R$ 6,6 milhões foram investidos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), em pesquisas sobre o mineral. Projetos com esse foco, inclusive, são priorizados para financiamento por meio de pontuação extra na concorrência com outros estudos, estratégia presente em sete chamadas lançadas pela Fundação entre 2022 e 2023.   

 

Rejeitos podem ajudar em regeneração  

Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ricardo Campos coordena um dos estudos envolvendo o lítio aprovado em chamada da Fapemig e que já começa a sinalizar resultados promissores. Sua pesquisa - “Identificação e caracterização morfofuncional de espécies vegetais com potencial de fitorremediação e recuperação de áreas degradadas por mineração de lítio” -, investiga, resumidamente, a possibilidade do cultivo de espécies destinadas à regeneração de áreas impactadas pela mineração, utilizando um dos principais rejeitos da extração de lítio: o silicato de alumínio. 

Os estudos de Ricardo Campos foram feitos nos municípios mineiros de Araçuaí e Divisa Alegre e contam com a colaboração da Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e de professores e estudantes do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFV, dos campi de Viçosa e Florestal. O pesquisador explica que dois laboratórios envolvidos no estudo (um coordenado pelo professor João Paulo de Souza, em Florestal, e outro pelo professor Cleberson Ribeiro, em Viçosa) receberam amostras do silicato de alumínio da empresa para que fossem feitos testes com algumas espécies de vegetais.   

“Na dissertação de mestrado do estudante Victor Scutari, sob orientação do professor Cleberson Ribeiro, foi observado que algumas leguminosas forrageiras, como o tremoço branco e o feijão de porco, se desenvolveram razoavelmente bem no silicato de alumínio. Essas espécies de leguminosas têm potencial para ajudar no processo de regeneração da vegetação e, por isso, são muitas vezes utilizadas em locais que sofreram distúrbios como fogo, pastagens abandonadas e desflorestamento”, detalha o pesquisador. Essas plantas são usadas, assim, para preparar o solo para a incorporação de novas espécies.   

A pesquisa liderada por Ricardo Campos foi aprovada na chamada Fapemig em cooperação com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que visou ao fortalecimento da cadeia produtiva do lítio por meio do Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG) – Fontes de Energias Renováveis e a Cadeia Minero-Química do Lítio no Estado de Minas Gerais.  

“O Governo de Minas sabe da importância do estímulo à ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento econômico e, por isso mesmo, busca aproveitar ao máximo o potencial dos recursos do estado, sejam eles naturais ou humanos, sempre em harmonia com o meio ambiente”, afirma o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio. “Na última semana, inclusive, o governador Romeu Zema anunciou o aporte de mais R$ 1 bilhão para fortalecer o ecossistema mineiro de inovação até 2026”, completou. 

Apesar de o lítio ser considerado um metal verde por ser produzido com a menor emissão de carbono ou rejeitos na natureza, Campos, que também é professor do Departamento de Biologia Geral na UFV, explica que, para a sua obtenção em formato comercial, ainda é necessário exercer atividades de mineração e beneficiamento químico. A boa notícia, porém, é que o silicato de alumínio não é um rejeito de alta toxicidade. “Ele não apresenta metais pesados e até demonstra ter bom nível de macronutrientes”, explica o pesquisador. 

 

Companhia colabora por atividade sustentável 

Para o diretor da CBL, Vinícius Alvarenga, o investimento e a colaboração com pesquisas científicas são essenciais para o desenvolvimento sustentável de Minas Gerais. A empresa de lítio é conhecida pelos trabalhos que realiza junto à comunidade e ao meio ambiente onde atua. 

“Temos convênios tecnológicos em andamento com várias instituições de ensino que podem trazer benefícios a nossa empresa em termos de otimização de processos e sustentabilidade, além de fortalecer as instituições de ensino, irradiar conhecimento e preparar futuros talentos para nossos quadros”, destaca.   

“Aportamos recursos para trabalhos acadêmicos e bolsas para os estudantes. Os convênios envolvem principalmente temas de aplicação de resíduos ou rejeitos na construção civil e agricultura, gestão hídrica e caracterização ambiental”, explica o diretor, reforçando um dos compromissos da empresa de apoiar pesquisas na área da mineração. 

 

O Vale do Lítio  

Em maio, o Estado comemorou um ano da implementação do projeto do Governo de Minas Vale do Lítio. O complexo industrial e tecnológico localizado no Vale do Jequitinhonha, dedicado à extração, processamento e pesquisa desse mineral, tem entre seus propósitos o desenvolvimento de cidades do Norte e Nordeste de Minas a partir do potencial da cadeia produtiva do lítio.  

“A Fapemig e os pesquisadores mineiros estão muito preocupados e comprometidos com a geração de valor na cadeia do lítio. Nos últimos anos, tivemos diversos projetos que receberam recursos substanciais da Fundação em diferentes chamadas junto às academias e às empresas”, destaca o presidente da Fapemig, Carlos Arruda.  

A contribuição da Fapemig dentro do projeto estadual ocorre por meio do financiamento de projetos de pesquisa que buscam, entre outros, maior sustentabilidade na extração e no processamento do mineral.  

O Vale do Lítio foi concebido pelo Governo de Minas para aproveitar o recurso natural, criando um polo de desenvolvimento econômico que hoje gera empregos e atrai cada vez mais investimentos privados, fomentando a inovação tecnológica no Estado. Desde sua inauguração, o projeto já atraiu R$ 5,5 bilhões em investimentos privados e gerou 10 mil empregos diretos e indiretos, fortalecendo a economia local e nacional. 

 

*Com informações da Agência Minas