Centro de Artesanato Mineiro e Fundação Clóvis Salgado inauguram exposição "Arte do barro, arte na vida"
Exposição reúne 55 obras de autoria de quatro ceramistas da cidade de Caraí, no Vale do Jequitinhonha, e fica em cartaz, no Palácio das Artes, até o dia 31 de outubro
Publicado: 29/09/2021 16:22 | Atualizado: 03/10/2022 21:07
Foto: Divulgação Ceart-MG Foto: Divulgação Ceart-MG

A riqueza e a singularidade das obras em cerâmica do Vale do Jequitinhonha estão presentes na exposição “Arte do barro, arte na vida”, que reúne 55 obras de quatro ceramistas de Caraí, e fica em cartaz, até o dia 31 de outubro deste ano, na Galeria Pedro Moraleida do Palácio das Artes.

A mostra, com curadoria do arquiteto restaurador e colecionador Alexandre Mascarenhas, é realizada pelo Centro de Artesanato Mineiro (Ceart) e Governo de Minas Gerais, via Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede) e Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, com patrocínio master da Cemig.

Integrante do projeto itinerante Sala do Artista Popular (SAP), do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, instituição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a exposição contém obras dos renomados ceramistas Margarida Ferreira Silva, Zé Maria Alves da Silva, Rosana Pereira e Geralda Batista. Os quatros artistas pertencem à família de Noemisa Batista Santos (1947) e Ulisses Pereira Chaves (1924-2006), dois reconhecidos ceramistas da região do Vale do Jequitinhonha.

Sobre os artistas

Margarida Ferreira Silva (1966) e Zé Maria Alves da Silva (1972) iniciaram, espontaneamente, na arte do barro desde criança, assim como a maioria dos artistas e artesãos da região do Vale do Jequitinhonha, ou seja, criando os próprios brinquedos em pequenas dimensões que variavam de panelinhas, potinhos, bonecos e bichinhos. De forma natural e informal, “pegaram o gosto” de modelar a terra e, incentivados pelo pai, desenvolveram peças peculiares – figuras e criaturas antropozoomorfas – levando-se em conta o dicionário “ulissiano” na forma, no grafismo, na simbologia, na feitura e, principalmente, na técnica e acabamento. Mesmo mantendo traços e padronagens similares, cada um seguiu seu percurso individual e suas peças se caracterizam por grandes proporções, criatividade iconográfica e impacto visual.

Rosana Pereira (1988), por sua vez, quebra paradigmas de forte ascendência cultural, se destacando, ao contrário do restante da família, no desenvolvimento de peças de pequenas medidas, quase “miniaturas” se comparadas aos tamanhos da obra da mãe, do tio e do avô.  O jeito tímido, contido e de pouca fala, de certa maneira, influenciou e contribuiu para o preciosismo a artista no acabamento final das peças. Já do avô, herdou a cumplicidade afetiva e simbólica com a terra e com os seres “fantásticos”. Criatividade e domínio no ofício barrista são notáveis.

Outro destaque é Geralda Batista (1949), cujo trabalho está diretamente associado ao de sua mãe Joana Gomes dos Santos, paneleira e “moringueira” e ao de suas irmãs Noemisa, Jacinta e Santa. Mesmo ofuscada pela criatividade e pelo exímio senso estético de Noemisa Batista, Geralda nunca deixou de produzir sua arte do barro. Menos sonhadora que a irmã, sua obra se limita em utilitários e brinquedinhos – bichinhos, panelinhas e xicrinhas – com raras inserções na vida cotidiana do sertão mineiro.  Nota-se claramente a tradição familiar em todo processo de feitura: desde o preparo e modelagem do barro, o oleio e a sua queima. A obra da artista se distingue pelo acabamento despretensioso, pela “fragilidade” na textura, nas deformações formais e decorativas e, pelos tons suaves da pigmentação mineral.