Pesquisas em 6G avançam em Minas Gerais com apoio da FAPEMIG
Estudos apoiados pela Fundação buscam transformar desafios nacionais em soluções tecnológicas com a chegada do 6G
Publicado: 11/09/2025 11:46
Crédito: Ascom Inatel Crédito: Ascom Inatel

Desde a primeira geração, nos anos 1980, as redes móveis vêm transformando a forma como as pessoas se comunicam. Cada salto tecnológico trouxe novas funcionalidades: “a primeira geração inventou a comunicação móvel; a segunda resolveu seus problemas; a terceira criou a internet no celular; a quarta ampliou sua capacidade; e a quinta geração expandiu o uso para a chamada internet das coisas e aplicações industriais”, explica o professor Luciano Leonel Mendes, coordenador do Centro de Competência Embrapii Inatel em Redes 5G e 6G xGMobile do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel).

Agora, a sexta geração (6G) se apresenta como um novo marco, ao integrar comunicação, inteligência artificial, sensoriamento e localização em uma única plataforma. “O 6G nasce para ir além da comunicação. Ele será capaz de prover serviços inéditos, como mapeamento interno de ambientes, interação mais natural entre humanos e máquinas e maior eficiência energética no uso do espectro”, destaca o professor.

O Inatel, localizado em Santa Rita do Sapucaí, está na vanguarda desses estudos destacando-se como um dos polos mais importantes de pesquisa em telecomunicações da América Latina. O Instituto hospeda o Centro de Competência Embrapii-Inatel em Redes 5G e 6G, que é apoiado por diferentes projetos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). De acordo com o docente, atualmente existem aproximadamente R$ 12 milhões em projetos apoiados pela FAPEMIG em execução.

Tecnologia adaptada ao Brasil

As pesquisas conduzidas no xGMobile do Inatel buscam soluções para desafios típicos do contexto brasileiro. Entre os casos de uso, Mendes destaca o agronegócio, a mineração e o monitoramento ambiental. Como aumentar a produtividade agrícola e, ao mesmo tempo, garantir sustentabilidade e eficiência? A resposta, segundo o professor, está diretamente ligada à conectividade. No campo, muitas áreas ainda permanecem desconectadas, o que limita a adoção de tecnologias digitais.

“Sem conectividade, a transformação digital no campo não é possível. A sexta geração de redes móveis permitirá monitoramento em tempo real, uso intensivo de sensores e automação, mesmo em áreas remotas. Já na mineração, a substituição de trabalhadores em áreas de risco por robôs conectados pode salvar vidas. Além disso, redes móveis evoluídas permitem monitorar estruturas e reduzir o risco de desastres ambientais, como os já vivenciados em Minas Gerais”, afirma.

O pesquisador também ressalta aplicações ligadas à conservação da biodiversidade, à logística e ao monitoramento de recursos hídricos e energéticos. “Nosso objetivo é que a rede 6G contribua para ampliar a abrangência da conectividade e permita que regiões hoje desconectadas sejam integradas à era digital. Nosso estado reúne desde pequenas propriedades familiares até grandes produtores. A conectividade 6G pode trazer benefícios econômicos, sociais e ambientais para toda essa cadeia”, acrescenta.

Acessibilidade e inclusão

As redes móveis 6G também têm o potencial de transformar a acessibilidade digital. A expectativa é que a tecnologia possa romper barreiras de comunicação e ampliar a inclusão de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, oferecendo novas formas de interação com dispositivos e serviços digitais.

De acordo com Luciano Mendes, a evolução das interfaces será central nesse processo. “O 6G deve incorporar recursos como reconhecimento de expressões faciais, comandos por voz e gestos, além de integração com inteligência artificial. Isso abre caminho para que pessoas que não utilizam as mãos, por exemplo, possam interagir com a rede de maneira mais natural”, explica.

As possibilidades são inúmeras: interação sem toque, tradução de libras em tempo real, assistência cognitiva, mobilidade ampliada, educação inclusiva, entre outras. No lugar de adaptar ferramentas existentes, o 6G cria um ecossistema digital pensado para diferentes perfis de usuários desde sua concepção. “A tecnologia pode nivelar oportunidades. O 6G será revolucionário não só pela velocidade de conexão, mas pela possibilidade de tornar a experiência digital mais humana e inclusiva”, reforça Mendes.

Integração com satélites e desafios éticos

Um dos diferenciais do 6G é a integração com satélites, o que deve ampliar a cobertura em locais onde a rede terrestre não chega, como áreas remotas e rurais. “É um erro pensar que o 6G será apenas terrestre. Ele nasce para unificar redes distintas, com o satélite como parte inerente. Essa integração vai exigir adaptações regulatórias para que o marco legal acompanhe a evolução tecnológica”, destaca Mendes.

A expectativa é que órgãos reguladores, como a Anatel, avancem em modelos mais flexíveis, compatíveis com a velocidade das transformações no setor. Outro desafio está relacionado ao uso de dados pessoais e à cibersegurança. Redes cada vez mais inteligentes poderão coletar e analisar dados pessoais em tempo real, o que amplia a responsabilidade sobre sua utilização. “Os dados são o combustível dos serviços digitais, mas seu uso indevido pode gerar riscos. Precisamos estabelecer critérios éticos e regulatórios claros para proteger os usuários sem impedir a inovação”, explica o professor.

“Imagina que eu paro em frente a uma loja de carros e meu batimento cardíaco dispara. A operadora poderia vender essa informação para a montadora. Isso é legítimo? A resposta não é simples. Precisamos discutir com cuidado para não impedir a evolução da rede, mas também não ultrapassar os limites éticos”, avalia.

Quanto à segurança, o professor observa que a maior parte dos vazamentos ocorre no armazenamento e não na comunicação em si. “As redes móveis são altamente seguras e a tendência é que o 6G reforce ainda mais essa característica, inclusive com recursos de segurança quântica. Ainda assim, a proteção deve vir acompanhada de educação digital para os usuários”, completa.

Conexão entre ciência e indústria

“O xGMobile é um centro de pesquisa direcionado para a indústria. Nosso objetivo é compreender os problemas da indústria mineira e desenvolver soluções para eles. A participação dessas empresas é fundamental para que a pesquisa se traduza em impacto real”, afirma o professor. Empresas como Cemig, Copasa, Usiminas e Vale, além da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), são vistas como parceiras estratégicas e o apoio da FAPEMIG tem sido crucial para esse avanço.

“A FAPEMIG nos dá pernas e asas para chegar ao mundo. Sem esse apoio, muitos avanços seriam inviáveis”, ressalta o professor. Atualmente, estão em execução projetos voltados para internacionalização, infraestrutura laboratorial, como o xGMobile, redes colaborativas e formação de recursos humanos.